quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Lanz e o lance

    Não sou daqueles que acreditam que o futebol é justo, nosso esporte bretão por muitas vezes já deixou claro de que não é flor que se cheire! Contudo ser eliminado pelo pequenino time boliviano seria terrível, algo que me faria desacreditar de tudo, que me conduziria ao suicídio futebolístico, me desligaria do esporte.
         Se por vezes os deuses do futebol não foram justos no desenrolar das partidas, foram pelo menos, justos comigo e com todos os vascaínos na última quarta-feira. Ainda que tenham feito brincadeiras de muito mau gosto com os corações cruzmaltinos, como no primeiro gol do Aurora (numa dividida com o jovem zagueiro Douglas o atacante boliviano conseguiu levar a melhor com sua maldita canela! Nem ele acreditou no lance.). Mas tudo bem, nosso glorioso time deu a eles o que mereceram, uma sapatada que os deixou sem saber como voltar para Bolívia.

         Digo que mereceram porque a tamanha ousadia daquele time transformou-se em audácia, ora, um time para ganhar de 3x1 tem que estar credenciado para tal feito! Há de se confirmar “metemos 3 porque podemos!”, senão não há legitimidade na vitória, senão não passa de acaso! Tal audácia, queridos amigos, despertou no bravo plantel do Gigante da Colina um sentimento de revanche que os bolivianos com certeza não conseguiriam conter com sua fraca linha de defesa.
         E assim foi o match, como dizia Nelson Rodrigues, o Vasco a pressionar e a castigar o fragílimo adversário o tempo todo, uma verdadeira surra, até quem nunca havia marcado um tento com nosso honrado manto marcou naquela partida! O placar final exibia um cintilante 8x3 meus caros!
         Inúmeros foram os fatos dignos de destaque, poderia falar da noite de Alecsandro que foi do limbo para o inferno numa jogada em que se absteve de marcar o gol e que logo em seguida permitiu a maior “cagada” da vida do atacante do Aurora, do inferno para o céu após nobre contribuição para a equipe com importantes gols. A torcida que o vaia em todos os lances, no final gritou seu nome como quem diz “Desculpe-me!” num tom de “obrigado!”.
         Juninho Pernambucano também merece destaque, seus passes encontravam os parceiros em qualquer ponto do gramado, sempre racional, controlou a equipe nos momentos de tensão, um cérebro de chuteiras!

         Porém o grande destaque será para o nosso garoto Bernardo, senhoras e senhores! O menino, responsável pelo nosso único tento nas altitudes de Cochabamba, brilhou mais uma vez! Dominou a bola com estima e gentileza, o fino trato de quem conhece a pelota, num toque seco e rápido fez a redonda vazar as canetas do adversário, como quem dançasse com alegria dispensou um segundo marcador, com o pé esquerdo adiantou a bola o suficiente para se livrar de um terceiro e concluiu a belíssima jogada com um chute forte e preciso. Gol!
         Seu pé direito, que outrora esculpia com delicadeza um lance magistral, agora mais se assemelhava a um canhão. A torcida agradecida inflamou-se de alegria e incendiou o glorioso São Januário.
         Mas e o goleiro? Imagino que os senhores queiram saber do goleiro nessa história toda, pois bem! Esse nem tomou nota do ocorrido, percebeu que o placar havia sido inaugurado somente quando seus companheiros de equipe rolaram a bola para o reinício da partida, acho que se juntou ao grande grupo dos maravilhados, dos embasbacados! Um misto de confusão, com surpresa e deleite dava forma ao semblante do arqueiro.

         Por que o goleiro, o pobre goleiro Lanz, não poderia também ter se impressionado com tamanha beleza numa mesma jogada?
É! Meus amigos e amigas, vida de goleiro não é fácil, se a vida é ruim que dirá o trabalho! Mas ele até que fez a parte dele e bem feita, levou o gol!